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Internet em zonas remotas do oceano (Jornal Economia do Mar)

Tecnologia pioneira pode nascer dentro de um ano.

O Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), em parceria com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e a empresa norueguesa MARLO, AS, está a desenvolver um projecto pioneiro à escala mundial, que permitirá uma “ligação à internet em zonas remotas do oceano, através de tecnologias normalizadas, usando uma rede de comunicações voadora sem fios de banda larga, que explora pela primeira vez em ambiente marítimo as bandas de frequência UHF libertadas pela televisão analógica”, esclareceu Rui Campos, um dos responsáveis pela iniciativa. O projecto designa-se Bluecom+ e tem um custo total de 309.348 euros, dos quais 262.920 são co-financiados pelo EEA Grants. Conforme nos afirmou Rui Campos, cada parceiro é apoiado em 85% e assume de per se os restantes 15% do financiamento.

A pensar na exportação

Em desenvolvimento desde Outubro de 2015, o Bluecom+ deverá estar concluído em Dezembro de 2016. De acordo com Rui Campos, “o projecto chegará até à fase de protótipo e pretende, fundamentalmente, fazer a prova do conceito”. Adianta, no entanto, que, “no âmbito de uma das tarefas do projecto, serão avaliadas formas de elevar o protótipo desenvolvido a produto”, após a sua conclusão, o que passará pela “avaliação dos potenciais tomadores da tecnologia, bem como possíveis modelos de negócio associados à exploração da tecnologia e do(s) serviço(s) de comunicações, que poderão ser disponibilizados futuramente com base nela”.

“Neste momento, está em curso a fase de definição dos requisitos e cenários de utilização, sobretudo baseada num questionário a decorrer junto dos potenciais utilizadores da tecnologia”, esclareceu-nos. A partir das respostas já obtidas, foi possível começar as especificações “da solução de comunicações, que estará concluída no início de 2016”, após o que se seguirá a implementação e construção do protótipo, para demonstração “em ambiente marítimo, no Verão de 2016”, com recurso a duas embarcações do IPMA.

Rui Campos considera que “a escassez de comunicações de banda larga em ambiente marítimo e a actividade crescente no mar” tornam o potencial económico do projecto “muito elevado”. Depois de concluído e demonstrado, o Bluecom+ pode “ter impacto nos vários sectores da economia azul” e contribuir para dinamizar “a economia digital em ambiente marítimo” e a “convergência com o cenário de comunicações existente em terra”. Por ser mundialmente inovadora, “a tecnologia tem potencial de exportação” e o modelo de negócio terá aplicação internacional.

Antecedentes

Na origem do projecto estará a ambição de ultrapassar as limitações à utilização da internet em zonas distantes do oceano a baixo custo. Actualmente, essa utilização depende das comunicações via satélite, demasiado dispendiosas, ou das redes celulares, só disponíveis “em zonas próximas da costa”, explica Rui Campos. É por isso que desde 2008 têm vindo a ser desenvolvidos diversos trabalhos de investigação “no âmbito das comunicações de banda larga”, mas essencialmente focados “em comunicações que funcionam próximo da superfície de água”, o que torna a qualidade das comunicações dependente das condições do mar.

Nesse sentido, “têm sido feitos trabalhos que propõem a utilização de Helikites – combinação de balão de hélio e papagaio – para elevação de equipamentos rádio e minimização da influência das condições marítimas das comunicações”, refere Rui Campos, mas a sua aplicação tem sido principalmente no plano militar e com “rádios baseados em tecnologias proprietárias, que usam potências de transmissão elevadas” e com custos de manutenção e aquisição elevados. Tais tecnologias requerem também altos consumos energéticos, “que poderão ser demasiado elevados para o recurso a energias renováveis”, e baterias, dado que no mar não é normal estar disponível alimentação eléctrica. Rui Campos recorda que a única aplicação civil conhecida foi no “projecto europeu FP7 Absolute, em que um Helikite foi usado para elevar uma mini-estação base 4G num cenário de catástrofe em ambiente terrestre”.

Internet a mais de 100 km da costa graças a bandas UHF

O conceito do Bluecom+ assenta em Helikites ancorados em plataformas flutuantes (bóias, embarcações ou parques eólicos), equipados com meios de comunicação que funcionam como “ponto de acesso sem fios e repetidor de sinal para outros Helikites”, formando uma rede voadora sem fios de banda larga e longo alcance, capaz de cobrir zonas remotas do oceano além dos 100 quilómetros, através de tecnologias normalizadas, como o Wi-Fi e o 3G/4G, e aceder a terminais móveis. Baseado em tecnologias rádio de baixa potência, o Bluecom+ permite a alimentação dos equipamentos com baterias instaladas nos Helikites e recarregáveis a partir de fontes de energia renováveis. Além de constituir uma inovação, o sistema torna-se auto-sustentável “do ponto de vista energético”, admite Rui Campos.

De acordo com este responsável, é esta combinação de Helikites, acesso à banda larga normalizada e exploração de bandas de frequência libertadas pela televisão analógica em ambiente marítimo que faz do Bluecom+ uma inovação planetária. Graças a este sistema, será mais simples disseminar dados recolhidos em ambiente marítimo por plataformas fixas e móveis e aceder à internet a partir do mar. Num momento em que “a exploração de recursos minerais no fundo oceânico, a monitorização ambiental ou actividades mais tradicionais, como a pesca e o transporte marítimo”, reclamam cada vez mais e melhores soluções de comunicação, o Bluecom+ pode representar um importante passo na dinamização da economia do mar.

Jornal Economia do Mar, 13 de janeiro de 2015

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