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A oitava arte (Exame Informática)

Hoje, é possível produzir um Rembrandt que nunca existiu apenas e só com inteligência artificial. Em Portugal, a música, a poesia e as telas provam que o artista também pode ser o programador.

Harold Cohen pode não ter sido o primeiro artista a usar software para pintar, mas tem um lugar na história enquanto protagonista de uma das duplas artísticas mais duradouras de sempre. O outro membro da dupla, conhecido por Aaron, mais não era que um conjunto de algoritmos. Começou a ser usado em 1973, teve uma versão programada em C, evoluiu para LISP, e com o tempo, passou a reconhecer rostos e objetos, apesar de não imitar os mestres da pintura. Sempre que precisava de uma nova funcionalidade, Harold Cohen tinha de lançar mãos a códigos e alterar algoritmos. As obras de arte de Aaron eram produzidas por impressoras, e muitas chegaram às mais famosas galerias do mundo. Até que Cohen decidiu acabar com a parceria, já na presente década.

Aaron tinha-se tornado demasiado pesado, em comparação com todos os projetos de investigação ou mesmo produtos comerciais que proliferaram depois da viragem do século. E havia também uma questão filosófica, que acabou por se impor depois de décadas de explicações sobre o facto de as obras de Aaron não poderem ser consideradas «pinturas robóticas» e de a criatividade do software depender do que ele, Cohen, quisesse fazer com o algoritmo.

«Aquilo já não precisava de mim. Eu nunca tive a ideia de deixar que o software decidisse tudo, mas aos poucos fui tomando consciência de que (o Aaron) podia fazer as coisas que fazia sem mim. Tornou-se autónomo o suficiente para perturbar o tipo que escreveu o programa».

As nossas abelinhas

No Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Rui Penha retomou a mesma questão que atormentou Harold Cohen. Com a obra Resono, o músico, que é investigador do Inesc Tec e professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), aprofundou a “crónica” inexistência de alma nos computadores com uma instalação composta por bolas que interagem entre elas, através de sons produzidos pelos humanos ou pela variação da luminosidade. O resultado podia ser comparado a um eco artificial, que também era usado para fazer uma regressão de memórias do dia anterior, que levava o conjunto  de bolas a mudar de comportamento no dia seguinte.

A tentativa de recriação da experiência individual enquanto motor criativo não passou despercebida aos seguranças do turno da noite que apelidaram o Resono de «as nossas abelhinhas».

Rui Penha teve mais uma prova de que era possível gerar empatia junto dos humanos com arte produzida por software, mas ao contrário de Harold Cohen, não se deu por vencido perante a dicotomia entre programador/artista e software que produz arte. «Se um dia vamos ver um concerto do Hal 9000 (computador de "2001: Odisseia no Espaço") ou do Deep Blue, da IBM? Acredito mais numa coisa como o Wally.e (do filme de animação homónimo), porque é capaz de gerar empatia, e consegue nutrir a alma. Enquanto as máquinas não conseguirem fazer isso não vão ser criadoras. É possível que façam um concerto sozinhas, mas como expressão do autor/programador», prevê.

A TECNOARTE

Acordes improváveis

Com o projeto Resono, Rui Penha ganhou um lugar entre os finalistas do prémio Sonae Media Art de 2016. Mas este é apenas um dos vários projetos que têm vindo a ser desenvolvidos pelo investigador do INESC TEC com o propósito de entender as fronteiras da música gerada por computador: robôs que tocam instrumentos indonésios, software que usa os sons de pessoas para improvisar música, ou pautas de música geradas em tempo real enquanto são interpretadas por um quarteto de músicos figuram entre os vários projetos do compositor-tecnológo.

Exame Informática, 1 de agosto de 2016

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