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FASt - Uma tecnologia sempre em evolução (Jornal Economia do Mar)

Com o apoio do INESC TEC, da AFCEA e da Marinha, a FEUP tem vindo a desenvolver um protótipo de um veleiro autónomo, único em Portugal. A investigação continua e já há novas ideias.

Depois de quase uma década de pesquisa, a equipa da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), responsável pelo desenvolvimento do veleiro autónomo FASt (FEUP Autonomous Sailing-boat), prepara-se para dar novos passos. Um deles é a construção de um novo protótipo, maior do que o anterior, com design da FEUP mas construído por um estaleiro nacional, com o qual estão em curso negociações para o efeito, ao contrário do primeiro, totalmente desenvolvido na academia. Uma das vantagens da nova embarcação consistirá na possibilidade de transportar adcopters, funcionando como um pequeno heliporto, e assim aumentar o alcance da sua capacidade. Outro desenvolvimento do projecto original será a aquisição de pequenos veleiros telecomandados actualmente disponíveis no mercado para conversão em veículos autónomos. «Compramos os barcos, retiramos-lhes a tecnologia e instalamos lá o nosso hardware», esclareceu-nos José Francisco Valente, finalista do Mestrado Integrado de Engenharia Electrotécnica de Computadores da FEUP e membro da equipa que desenvolve o projecto.

PARCERIA COM A MARINHA

O FASt é um veleiro autónomo desenvolvido desde 2007 pela FEUP, com apoio financeiro do INESC TEC e, mais recentemente, da AFCEA (Armed Forces Communications and Electronics Association) Portugal. De acordo com José Francisco Valente, «este é o único veleiro autónomo feito em Portugal». Até ao momento, o estudante estima em dezenas de milhares de euros o investimento efectuado, incluindo cerca de 15 mil euros da AFCEA nos últimos três anos. E, tal como desde 2008, quando o primeiro protótipo (e único até ao momento) ficou concluído, é para continuar, pois todos os anos surgem novos desenvolvimentos e projectos de investigação associados à embarcação. Um dos principais parceiros é a Marinha portuguesa, embora não seja investidor. «A Marinha facilita a nossa presença em missões e nós participamos com o FASt, beneficiando ambos dos resultados obtidos com a utilização deste equipamento», refere o estudante. «A Marinha aprende connosco e nós aproveitamos o apoio da Marinha para obter resultados», conclui. Uma parceria que reflecte a evolução de um projecto que nasceu na academia e derivou também para a defesa e segurança, na componente de vigilância, despertando ainda o interesse da AFCEA.

AUTÓNOMO, SILENCIOSO E ECONÓMICO

As principais vantagens desta embarcação são a autonomia, o silêncio e a economia. O FASt pode permanecer meses consecutivos no mar, movido apenas pelo vento e alimentado por um painel solar fotovoltaico de 45 Wp, que confere a energia necessária à robótica de bordo. «Pode estar 48 horas sem bateria, por falta de luz solar, mas com duas horas de carga fica totalmente carregada», refere José Francisco Valente. Tal autonomia à superfície do mar também lhe permite tirar partido de comunicações por satélite. Dispõe de sistema de orientação GPS, sensores de velocidade, direcção, análise da água e temperatura, guincho eléctrico, sonar e câmara para despiste de obstáculos. Pesa 50 quilos, tem um comprimento de 2,5 metros e um mastro de 2,8 metros de altura. A quilha é formada por um compósito de fibra de carbono, com 1,25 metros de profundidade e 20 quilos de lastro de chumbo. E a velocidade máxima atingida foi de 10 nós. José Francisco Valente recorda que «o sistema consome pouco, tudo pode ser controlado remotamente, se necessário, embora esse não seja o propósito, pois nesse caso seria outro barco telecomandado, e o destino é programado». O reduzido ruído torna-o um veículo quase silencioso, factor relevante nos vários tipos de missão que pode desempenhar, como vigilância (passiva) costeira ou investigação marinha. É igualmente uma embarcação económica, se comparada com veleiros tripulados. Sem necessidade de tripulantes, não requer espaço para pessoas nem abastecimentos. Em contrapartida, pode transportar equipamento diverso, à medida da missão atribuída e conforme as dimensões do veleiro. A capacidade para transportar sensores diversos, «acima ou abaixo da superfície do mar», conforme se lê num documento alusivo ao veleiro, «torna este tipo de plataforma muito interessante para acções de vigilância costeira, em particular, usando processos de detecção acústica passiva», beneficiando do pouco ruído gerado. Questionado sobre a possibilidade de comercializar esta tecnologia, o estudante referiu-nos que «nunca pensámos em vender», mas admitiu a multiplicação dos protótipos, sem excluir a sua comercialização. Reconheceu igualmente desconhecer propostas para a sua aquisição. De acordo com o mesmo responsável, também não está feita uma avaliação económica rigorosa do projecto, mas «se fosse feito um modelo, a pedido, de acordo com especificações de um potencial interessado, talvez custasse umas centenas de milhares de euros». E quem poderiam ser os interessados? Entidades públicas, designadamente militares, ou investigadores, públicos ou privados.

PRÉMIOS

Sem concorrência em Portugal, o FASt não é inédito no mundo. Mas está bem cotado no estrangeiro. Participou cinco vezes no Campeonato Mundial de Vela Robótica, ganhou duas (2012 e 2013), e obteve um 2.° lugar. Este ano, uma apresentação do veleiro, intitulada "Vigilância Costeira com Embarcações à Vela Autónoma", no contexto do AFCEA Porto Student Club, valeu a José Francisco Valente o 2.° lugar para Apresentação Oral e o 1.° lugar para poster na AFCEA Student Conference.

Jornal de Economia do Mar, 1 de dezembro de 2015

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