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Luta antidepressão para 175 mil pessoas (Jornal de Notícias)
Duas centenas e meia de profissionais vão receber formação específica para diagnosticar e prevenir episódios depressivos dos habitantes de quatro freguesias. Risco de suicídio merecerá atenção redobrada.
"Em 2009, antes da crise, cerca de 8% da população portuguesa tinha depressão. Dos que tinham depressões ligeiras, 81% não estavam a ser tratados". Quem o diz é o psicólogo João Salgado, suportado pelos dados oficiais, e receando que o panorama da saúde mental, em Portugal, tenha sofrido um agravamento.
Precisamente para tratar a depressão e evitar o suicídio, foi dado início, no mês passado, ao projeto "Stop Depression", a aplicar nas quatro freguesias do Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) do Porto Ocidental, que conta com cerca de 175 mil pessoas inscritas.
Só Bonfim, Campanha e Paranhos ficam de fora do programa, que resulta da parceria entre o Instituto Universitário da Maia (Ismai), a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS), o INESC TEC, a SKA e a Arkimedes. da Noruega, Será dada formação específica a mais de 250 profissionais médicos, enfermeiros, psicólogos e técnicos de serviço social - como objetivo de “melhorar a capacidade de detetar depressões e gerir situaçôes de risco de suicídio”.
A escolha da ACeS do Porto Ocidental, dirigida por Rui Medon, deveu-se às “condições” do agrupamento, que, segundo João Salgado, do Ismai e coordenador do projeto, foram de encontro ao pretendido. “Tem uma população urbana afetada pela crise, envelhecida e com bolsas de pobreza. No Porto, o desemprego fez-se sentir mais em comparação com o resto do pais”, realça o coordenador.
Terapia assistida por computador
Até outubro de 2016, o plano “Cuidar mais. Vamos vencer a depressão” (nome da campanha pública do “Stop Depression”) vai estar no terreno, estimando-se que o tratamento melhore a vida de, pelo menos, meio milhar de portuenses.
O sistema informático, importado do estrangeiro, é uma das mais valias do “Cuidar Mais”. Será aplicado a novos pacientes e aos casos de recaída, a partir desta fase.
O processo inicia-se com o rastreio e a posterior avaliação. Segue- se o encaminhamento. “Os profissionais estarão mais despertos. Pode haver uma Intervenção mais precoce. A entrevista é muito clara quanto ao potencial risco de suicídio”, observa João Salgado. As situações são enquadradas em dois tipos: baixa intensidade e alta intensidade. Para os mais graves, a solução passa por fármacos e psicoterapia. Mas para os de baixa intensidade, o programa apresenta novidades para este ACeS. A terapia assistida por computador é uma delas. É dado ao paciente um código para entrar no sistema e, mediante a sua utilização, haverá uma lista de tarefas a cumprir. Através dos exercícios e da análise do humor, a extrair das respostas aos questionários, o estado de saúde terá um acompanhamento permanente.
Em caso de necessidade maior, será possível o contacto telefónico. A criação de grupos de apoio e o fornecimento de manuais de autoajuda serão outros auxiliares preciosos.
A introdução do “Cuidar Mais” visa agilizar o circuito. “Em termos de custos, os episódios depressivos são a segunda causa de anos dc vida saudáveis perdidos. Se a intervenção acontecer numa fase mais precoce, podemos diminuir a taxa de absentismo nos empregos”, explica João Salgado, olhando à saúde da população e do tecido empresarial, e à redução da despesa pública. "É uma oportunidade que não podíamos perder. Está a ser bem recebida pelos profissionais. A porta de entrada alargou-se. Para os utentes, o ganho será significativo”, conclui Rui Medon.
Jornal de Notícias, 6 de julho de 2015