Acções do Documento
FIRE-ENGINE (notícia)
Design Flexível de Sistemas de Gestão de Incêndios Florestais
Projeto permite ganhos a nível económico, social e ambiental
O INESC TEC está a desenvolver instrumentos, no âmbito do projeto FIRE-ENGINE – Design Flexível de Sistemas de Gestão de Incêndios Florestais, que têm como objetivo auxiliar as entidades do sistema de gestão de incêndios florestais na prevenção e na supressão. Naquele que é o país europeu mais assolado anualmente por fogos florestais, este trabalho pretende apoiar a definição de soluções adequadas às especificidades de cada região, combinando intervenções que normalmente ocorrem de forma independente. O projeto FIRE-ENGINE termina em 2014 e conta com um orçamento global de 600 mil euros.
Uma solução sistémica
No país europeu onde os incêndios florestais têm mais relevância, e numa altura em que a nação atravessa um difícil período a nível económico, é prioritária uma otimização dos recursos. É precisamente esse o objetivo principal do trabalho inovador que está a ser desenvolvido no âmbito do projeto FIRE-ENGINE, que visa ajudar autoridades públicas e proprietários florestais a encontrar a melhor estratégia de gestão de incêndios para uma região específica.
|
|
O FIRE-ENGINE arrancou em março de 2011 – juntando em parceria o INESC TEC, através do seu Centro para a Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo (CITE), o grupo Portucel Soporcel, a Engineering Systems Division do MIT – Massachussetts Institute of Technology, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e o Instituto Superior de Agronomia (ISA) da Universidade Técnica de Lisboa – e pretende desenvolver métodos de apoio às decisões de políticas públicas e de estratégias de operações no sistema de gestão de incêndios florestais. Inserido no MIT Portugal, o projeto contou com um financiamento de 450 mil euros da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). A participação do grupo Portucel Soporcel no projeto é enquadrada no investimento continuado que o grupo realiza na gestão de incêndios, e que este ano ascende a mais de três milhões de euros.
De acordo com Abílio Pereira Pacheco, investigador do CITE que integra a equipa do FIRE-ENGINE, com este trabalho “o objetivo é reunir um conjunto de entidades ligadas à academia e ainda uma empresa importante no setor para conseguir abordar de uma forma holística a gestão dos fogos florestais, com especial enfoque em questões de flexibilidade e incerteza”. Mais ainda, a “intenção é olhar para o problema além do fogo em si e incorporar uma perspetiva de sistemas, isto é, avaliar diferentes alternativas de gestão considerando as interações entre fatores ambientais, tecnológicos, sociais, culturais e económicos” por forma a conseguir obter inputs de todas estas componentes, e assim colmatar insuficiências no design dos sistemas de gestão de incêndios que permitam contribuir para reduzir efetivamente o número de incêndios que ocorrem anualmente no país.
Menos incêndios poupando recursos
O projeto conta já com um modelo de simulação do funcionamento de um sistema de supressão, que permite, em particular, perceber o impacto de dois importantes aspetos – os falsos alarmes, que podem ser maliciosos ou bem-intencionados, e os reacendimentos. Este modelo, à escala distrital, alimentado por um estudo estatístico apoiado em dados históricos, evidencia a oportunidade de criar uma cadeia de resultados positivos a partir da redução de falsos alarmes e reacendimentos.
“A análise efetuada com este modelo sugere que seria possível iniciar um ciclo virtuoso: começando por ‘atacar’ os falsos alarmes, sobram meios que podem ser usados para melhorar o rescaldo, diminuindo assim os reacendimentos, e logo o número de ignições, aliviando a pressão sobre o sistema”, afirma Abílio Pereira Pacheco. Consequentemente, é possível às forças de combate dedicarem ainda mais tempo às operações de rescaldo. De acordo com o investigador, “os falsos alarmes ocupam em média mais de uma hora a partir da chamada, tendo uma equipa de deslocar-se ao local e, não encontrando nenhum incêndio, confirmar que se trata efetivamente de um falso alarme. Inclusivamente, por vezes é mobilizado também um helicóptero”, ou seja, os custos são não só monetários, mas também de tempo gasto e de recursos indisponíveis para situações reais.
|
Mas os resultados não se ficam por aqui. Em conjunto com o MIT, ainda no âmbito do FIRE-ENGINE, o INESC TEC construiu um sistema de otimização e simulação que, tirando partido da flexibilidade aplicada ao desenho de sistemas de engenharia, permitiu olhar para a frota existente, nomeadamente veículos usados em grandes incêndios, e “concluir que é possível reduzir essa frota a um terço do seu tamanho mantendo o mesmo nível de segurança”, com as reduções de custos inerentes. Os veículos seriam alocados apenas a algumas corporações de bombeiros de forma flexível conforme a distribuição real dos fogos. “Isto é relevante ainda porque a frota que temos é antiga e portanto seria uma oportunidade para a renovar”, acrescenta o investigador. Outro contributo deste trabalho é a recomendação da localização espacial onde se devem estacionar os recursos para incêndios de maior dimensão.
Impacto económico, social e ambiental
Cerca de 9% das exportações portuguesas resultam de atividades económicas relacionadas com a floresta, e todos os anos as perdas diretas associadas aos incêndios ascendem aos 250 milhões de euros. Por outro lado, anualmente investem-se em Portugal cerca de 120 milhões de euros em prevenção e supressão. Os resultados do projeto FIRE-ENGINE poderão, por isso, vir a ter impacto económico, mas os potenciais benefícios poderão também ser de outra ordem. Com um incêndio são libertados milhares de toneladas de CO2, pelo que a aplicação dos resultados do projeto poderá também proporcionar benefícios ambientais. Mas além disso, os instrumentos desenvolvidos no âmbito do FIRE-ENGINE podem ser aplicados “em qualquer outra área que envolva risco, como por exemplo a emergência médica”, explica Abílio Pereira Pacheco.
|
O FIRE-ENGINE conta com um comité de stakeholders que reúne os atores mais relevantes do sistema de gestão de incêndios, a quem periodicamente são apresentados os resultados do projeto. O comité é constituído, entre outros, pela GNR (que inclui o GIPS – Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro, uma força especial que efetua combate a incêndios, e o SEPNA – Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente, que identifica as causas dos incêndios e faz vigilância), a CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, a Forestis – Associação Florestal de Portugal, a UNAC – União da Floresta Mediterrânica, a ANPC – Autoridade Nacional de Proteção Civil, o ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a Câmara Municipal de Odemira e a Câmara Municipal de Torres Vedras. Para o investigador, “desta forma é possível receber feedback importante destes stakeholders”. Também relevantes são “as apresentações de resultados que têm vindo a ser feitas em conferências nacionais e internacionais”, destaca.
Para Abílio Pereira Pacheco, a grande mais-valia que o INESC TEC pode tirar com a participação neste projeto “é todo um reconhecimento numa área completamente nova”, o que poderá “porventura abrir caminhos para desenvolver outros projetos”. Já o INESC TEC leva “todo um know-how que se está a materializar em ferramentas ou conceitos que podem ser usados”. Mas para o investigador, um contributo importante do FIRE-ENGINE foi “conseguir pôr as partes interessadas a dialogar, algo que nesta área costuma ser muito difícil”, adianta. A equipa, coordenada pelo investigador João Claro (coordenador do CITE; docente da FEUP), por Richard de Neufville (MIT) e por Tiago Oliveira (grupo Portucel Soporcel), é composta por Abílio Pereira Pacheco (CITE/INESC TEC), Ana Barros e Inês Mirra (grupo Portucel Soporcel), Ross Collins e Hèctor Fornés (MIT), José Cardoso Pereira, José Calvão Borges, Inês Melo e Brigite Botequim (ISA), e Paulo Fernandes e Carlos Loureiro (UTAD).
Créditos fotos imagens incêndios: Flickr