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Indústria 4.0 pode gerar seis milhões (Vida Económica)

A indústria 4.0 está a acentuar a componente do serviço na produção industrial com uma transformação profunda da atividade produtiva. Há uma vaga de novos investimentos, criação de novos empregos, mas também eliminação de urna parte dos atuais postos de trabalho.

Portugal pode beneficiar com as mudanças, tornando-se mais competitivo face aos países com baixos custos de mão de obra. Mas precisa de ajustar o sistema educativo e a formação profissional para enfrentar os novos desafios. Estas são as principais conclusões do Pequeno-Almoço/debate sobre a "Indústria 4.0", promovido pela AIMMAP, em parceria com o jornal "Vida Económica".

"Adivinhamos que estamos atravessar uma verdadeira revolução. Há quem lhe chame a 4° revolução industrial", afirma Rafael Campos Pereira, diretor-geral da AIMMAP.

"A Comissão Europeia e o Governo japonês têm anunciado que, nos próximos anos, a muito curto prazo, 60% dos postos de trabalho vão ser destruídos. Acho que não tem consequências maioritariamente negativas, porque, seguramente, em substituição dos postos de trabalho que vão ser eliminados, serão criados muitos outros postos de trabalho, seguramente mais atrativos e estimulantes para as novas geraçoes, acrescenta.

Rafael Campos Pereira admite que a mudança exige novos perfis profissionais nas áreas de desenvolvimento e logística.

"No caso português, são as melhores gerações de sempre em termos de formação. O setor metalúrgico e metalomecânico está a ser líder nesta área. É fundamental, na nossa perspetiva, que a liderança seja mesmo da indústria e não propriamente das tecnologias de informação. É importante que seja a indústria, pura e dura, a tomar a liderança, porque a indústria tem de continuar a estar no centro da atividade económica", acrescenta.

Para Gonçalo Lobo Xavier, assessor da Direção da AIMMAP, "Esta revolução é muito mais do que tecnológica".

"Os desafios que estão presentes neste novo movimento têm muito mais a ver com a escala, a velocidade de produção, uma reorientação das cadeias de valor, umas novas relações entre institutos de saber, centros tecnológicos e a resolução de um problema. Todas as empresas que estão hoje no mercado têm consciência de que o caminho que estão a fazer é o caminho para a sua sustentabilidade. Isto tem desafios enormes para a conceção da produção, nas vendas, na logística., que passarão a ser o centro das preocupações das empresas. Estes domínios poderão fazer a diferença junto do cliente muito mais do que apenas o próprio custo do produto."

"Os consumidores estão a mudar os seus gostos e as suas tendências muito rapidamente, portanto há que ser muito rápido a reagir às alterações de consumo. As empresas estão conscientes destas alterações e da necessidade de reagir de forma muito rápida."

"O nosso problema r integrar as diferentes áreas, conseguindo rapidamente ter as soluções em logística, na produção e, sobretudo, ter uma solução no serviço", afirma Américo Azevedo, do INESC TEC. O desafio, segundo o mesmo responsável  é "que as diferentes áreas consigam integrar-se numa plataforma única, que não seja dispendiosa. O problema é que quem faz subcontratação depende ainda muito do cliente".

Américo Azevedo exemplifica: "Normalmente, as grandes empresas têm uma logística própria. Não se põem de acordo, nem sequer por países, quanto mais a nível mundial. Isso traz problemas de integração. Porque a plataforma de grandes "players", mesmo da indústria automóvel, que tenta normalmente uniformizar as coisas, é onde é mais profunda a divisão".

"A questão é que, pela primeira vez, esta revolução foi anunciada antes. Estima-se que se atinja o ponto maduro desta 4a revolução industrial em 2030, portanto estamos a falar de um investimento extra de 60 mil milhões de curas/ano para se ganhar seis milhões de empregos até 2030", afirma Fernando Sousa, da CEI.

"Espera-se que, nessa altura, se diga que estamos na 4a Revolução Industrial. Todos sabemos que os últimos anos foram terríveis, quando se fala de industrialização, mas é preciso perceber porque é que isso aconteceu. O que aconteceu não foi uma simples opção estratégica, houve ganhos de produtividade. Aquela lógica de concentração das empresas naquilo que é 'core' e que vai externalizar o que não é 'core".

"Muitas dessas atividades passaram a não ser consideradas industriais, logística, transportes. Portanto, quando analisamos o peso da indústria na economia é preciso perceber o que aconteceu. Isso deveu-se a três coisas: aumentou a produtividade, houve uma alteração em termos do que era estratégico e houve outsourcing", acrescenta. Fernando Sousa.

"Estamos preocupados numa lógica de organização vertical, mas, se olharmos para um organigrama, não se consegue ver o cliente. Nos últimos anos verificou-se uma inversão. Esta lógica de orientação para o cliente traz de facto exigências, isso significa que temos de prestar aquilo que ele quer."

No entender do mesmo responsável, "esni-se assistir a um fenómeno verdadeiramente revolucionário, pois o ciclo de vida de um produto é muito mais curto, isso traz pressões terríveis a quem o desenvolve".

"Esta 4a Revolução Industrial é uma revolução centrada no custo e na sustentabilidade", conclui.

Muitas oportunidades vão surgir

"As pessoas andam todas à procura de produtividade, customização e personalização. Por outro lado, as cadeias de valor têm de ser muito mais ágeis, ou seja, a proximidade ao consumidor final. A arquitetura tem de ser aberta", defende Joaquim Almeida, da Fundiven.

"Vão existir novos processos, novos modelos de negócio, o que significa claras ameaças ao que são as nossas empresas atuais, mas também muitas oportunidades para as atuais e para as que vão surgir. Temos uma vantagem que é uma revolução que não está dependente da localização geográfica. Isso é uma vantagem para Porrugal. O fator crítico desta revolução é o fator humano", adverte.

"A nossa maior debilidade pode estar na pouca agilidade do nosso sistema educativo e de formação profissional. Quem vai ter mais sucesso é quem mais rapidamente conseguir alterar os conteúdos programáticos, correspondentes às necessidades das empresas. Temos excelentes estruturas, inclusive tecnológicas. Excelentes universidades", afirma Joaquim Almeida.

"O Governo criou uma comissão com 64 entidades, o mais incrível é que não incluiu nessa comissão rigorosamente ninguém do lado do sistema científico-tecnológico, embora tenham sido auscultadas no processo mais tarde. Isto, estruturalmente, é desequilibrado", afirma Hildebrando Vasconcelos, diretor-geral do CATIM. "Temos um problema de agilidade terrível: não conseguimos adaptar os próprios currículos universitários porque há um controlo central verdadeiramente brutal em Portugal. Temos outro problema estrutural, porque Bolonha trouxe-nos um problema. A reforma de Bolonha é uma oportunidade para mudar mas tem a ver com a nossa natureza. "As pessoas não gostam de mudar."

"Se tivéssemos conseguido fazer um 3+2, era de facto diferente. Os problemas são multidisciplinares. Por isso, provavelmente alguém que tenha um problema precisa de uma solução que é multidisciplittar. Na minha opinião, este é que vai ser o grande desafio do lado das pessoas. É a capacidade de multidisciplinaridade", conclui.

"Este esforço de capacitação que tem de ser feito é maior do lado dos gestores ou do lado do pessoal produtivo? E absolutamente transversal a todos. Tudo isto que está acontecer vai implicar transformações ao nível das empresas, das várias vertentes, inclusivamente da organização das formas de estar. No caso das empresas, o que estamos habituados a ver são os organigramas com as caixinhas, se até agora as quintinhas que se formam nas empresas deviam ser ultrapassadas de forma a criar fluxos", afirma João Girão, consultor da AIMMAP.

"Nos próprios modelos curriculares vão ter de existir processos de investigação na busca de soluções para problemas que são colocados pelas próprias empresas. Porque ao trabalhador vai ser exigido não só produzir mas também encontrar soluções inovadoras. Esta evolução é não só disruptiva como exponencial. Os nossos estudantes, mesmo os de Bolonha, chegam ao fim de três anos e estão obsoletos e estão a ser formados para empregos que ainda não existem. Quando falamos em ciclos curtos dos produtos, estamos a falar em ciclos curtos da tecnologia que Incorpora os produtos."

"Temos de refundar a formação e criar uma visão diferente que integre os próprios estudantes no seu processo de desenvolvimento pessoal e até na criação de conteúdos." "Os empresários não têm feito outra coisa na vida que não seja responder a desafios. Estes desafios permanentes que os governantes lançam aos empresários é de quem não está a ver o que se está a passar. As empresas estão a agir muitas vezes contra o Estado", acrescenta João Girão.

"Notamos alguma apetência das empresas por estas situações, pela parte logística, fabril, etc.. O problema desta operação tem a ver como custo dos equipamentos. Neste momento, as empresas preferem fazer os investimentos por si. Os projetos que existem para inovação empresarial basicamente passam por um empréstimo às empresas. As burocracias que são exigidas nos projetos de investimento desde a candidatura, acompanhamento e à posteriori são tão elevadas que só as empresas que não consigam recorrer facilmente à banca é que podem competir", afirma David Rodrigues, coordenador do Departamento Técnico e Económico da AIMMAP.

Vida Económica, 22 de julho de 2016

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