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A epilepsia em profundidade (Exame Informática)

Um simples sensor Kinect bastou para que médicos alemães passassem a conhecer ao detalhe uma crise epilética. A solução vai ser testada em breve em doentes de Parkinson.

A importância que a profundidade pode ter: até à data, os médicos que pretendiam monitorizar doentes de epilepsia numa sala de hospital tinham de usar um sistema que associava aos registos de eletroencefalogramas as imagens captadas a duas dimensões. A solução permitia a um especialista relacionar as imagens com a atividade cerebral, mas apresentava uma lacuna: não permitia fazer uma análise quantitativa das crises de epilepsia. Em maio de 2014, a Klinikum Großhadern of the Ludwig Maximilians, da Universidade de Munique, começou a usar um simples sensor Kinnect para poder lidar com imagens tridimensionais. «Até à data, os médicos apenas podiam fazer análises qualitativas. Com as imagens 3D, passamos a ter dados quantitativos, que permitem um diagnóstico mais rápido. O que é bom para o doente, para o médico e para o hospital», explica João Paulo Cunha, responsável do INESC TEC, que dirigiu os investigadores Ana Patrícia Rocha e Hugo Choupina na implementação de um sistema que permite quantificar movimentos através da captação de imagens tridimensionais.

A nova solução tem como propósito garantir maior precisão na análise feita ao conjunto de 20% dos casos de epilepsia, que os medicamentos nem sempre conseguem controlar. Depois dos primeiros testes numa cama, o hospital alemão decidiu expandir a solução desenvolvida em parceria pelo INESC TEC, Universidade de Aveiro e Universidade de Munique para um total de três camas. «São casos complexos em que os médicos têm mais dúvidas, e que já passaram por todo o tipo de testes e tratamentos, e que podem exigir cirurgias, que têm de ser muito bem pensadas», acrescenta João Paulo Cunha, explicando as circunstâncias em que os doentes chegam ao hospital para se submeterem a sessões de observação. Além dos custos reduzidos, a análise de movimentos em 3D também se distingue pela precisão: O sistema usado em Munique está apto a funcionar com resoluções na ordem dos centímetros cúbicos , e pode ser calibrado para cada caso. A nova solução capta as imagens e, de forma automática, faz uma análise quantitativa dos movimentos do corpo, através de algoritmos que foram produzidos com esse propósito: «Pode indicar que um padrão de movimentos tem início numa mão ao milissegundo x, e que ao milissegundo y esse movimento expandiu-se para o braço, ou que ao milissegundo z mudou para o outro lado do corpo», explica João Paulo Cunha, dando exemplos sobre a análise levada a cabo pelos algoritmos.

O investigador do INESC TEC mantém a expectativa de que depois do Hospital de Munique outros hospitais e clínicas ajudem a generalizar o uso desta tecnologia e contribuam para a formação «da maior base de dados do mundo» sobre padrões de crises de epilepsia.

TAMBÉM PARA O PARKINSON

João Paulo Cunha acredita que a mesma solução tecnológica pode vir a ser usada noutras patologias. Nos últimos tempos, consórcio responsável pelo projeto tem vindo a trabalhar na adaptação da nova ferramenta à análise da doença de Parkinson.

«Todas as doenças que influenciem a forma como nos movimentamos podem beneficiar da ajuda destas tecnologias (de imagens 3D). É uma solução que pode ajudar os médicos a afinarem com maior precisão os tratamentos que têm de ser aplicados a cada doente», acrescenta o investigador do INESC TEC .

Outra das evoluções possíveis passa pela aplicação da tecnologia à área do desporto, que permitiria relacionar a atividade mental captada pelos elétrodos e os movimentos captados pelas câmaras, com o propósito de melhorar o desempenho de um desportista. «(Ao contrário dos cenários clínicos) No desporto, há a vantagem de permitir a interação com o doente», conclui João Paulo Cunha.

Exame Informática, 1 de março de 2016

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